O que eu ouvi de legal em maio de 2023

Gustavo Sumares
5 min readJun 2, 2023

Maio foi um mês bem legal. Teve tempo bom, teve feriado, teve Feira da Reforma Agrária no parque da Água Branca. Parecia que ia ter Virada Cultural, mas acabou tendo uma paródia de muito mau gosto da virada que envolveu atrasos, má organização, muitos tapumes e muita, MUITA polícia. E teve vários lançamentos legais no mundo todo também.

A novidade desse mês é que agora eu tenho um substack. Você pode se inscrever lá (de graça claro) e sempre que eu escrever por aqui, você receberá um email. Por mais que eu goste de escrever no Medium, após três anos produzindo conteúdo pra eles e receber em troca só um ¯\_(ツ)_/¯, me parece válido considerar alternativas. Eu pretendo seguir publicando esses textos por lá, então se inscreve pelo link acima se você quiser seguir acompanhando!

Bokani Dyer — Radio Sechaba

Um disco de jazz bem foda do pianista sul-africano Bokani Dyer. O quarto dele, segundo o Spotify. Segundo o bandcamp, o nome do álbum é uma referência à Radio Freedom, associada ao Congresso Nacional Africano (ANC) e parte importante da luta contra o apartheid. É um disco que soma um monte de influências ao jazz tradicional, e tem tempo pra isso: uma hora, 14 faixas, sem perder o fôlego. Performances fodas nas teclas se somam a uma cozinha excelente, metais afiados e vocais de convidados como em “State of the Nation” e na ótima “Ke Nako”.

MC Yallah — Yallah Beibe

Eu conhecia a braba MC Yallah — nascida no Quênia, criada em Uganda — sa estreia excelente da Badsista de 2021, Gueto Elegance. Esse é o segundo disco dela, com colaborações dos produtores Debmaster, Scotch Rolex e Chrisman, e ela traz aqui um hip-hop intenso. As rimas delas estão sempre no centro, acompanhada em geral por batidas cadenciadas, graves beeem altos e alguns sons eletrônicos com uma pegada quase industrial (vide “Sunday” e “Yallah Beibe”). O clima é mais sombrio até do que eu esperava: “No One Seems To Bother” conta até com feat de Lord Spikeheart, um dos dois membros da banda de metal queniana Duma. Pesado.

Mahmundi — Amor Fati

Eu ouvi o disco auto-intitulado Mahmundi da carioca Marcela Vale em 2016, a ano posterior ao do seu lançamento, e foi uma época moh legal da minha vida. O disco é fantástico, mas o momento feliz deixou ele ainda melhor. Ela lançou bastante música de lá pra cá, mas nada chegou perto do quanto eu curti aquele trabalho — e pensando bem, dificilmente poderia. Amor Fati, recém-lançado, acrescenta à obra já excelente da artista. Segue a mesma pegada de pop eletrônico leve dos demais álbuns dela, mas a produção refinada pelos anos na pista fazem com que faixas como “Versos Não”, “Brisa 22” e a ótima “Sem Necessidade”, com Tagua Tagua, batam ainda mais forte. É um disco curto, com 10 faixas e 35 minutos, ainda mais considerando que a nona faixa é uma versão nova de uma faixa antiga, e a décima é um remix. Mas é um disco que vale cada segundo.

NIWA — Araponga

Niwa (que quer dizer “jardim” em japonês) é uma cantora e compositora cujo primeiro disco, Araponga, rendeu uma matéria legal na Noize. Eu não lembro onde ouvi falar dele da 1a vez, mas lembro que não esperava curtir tanto quanto curti. É um pop eletrônico bem experimental que me lembrou da banda canadense Austra, mas lastreado no vozeirão da cantora e em uma produção afiadíssima. O resultado são faixas imersivas e propulsivas como “Paisagem com Lua Cheia” e “Serra”, ao lado de momentos bonitos como “Tenho Pressa” e “A Pele”. Baita álbum.

rum.gold — U Street Anthology

rum.gold é um cantor brabíssimo do Brooklyn cujo segundo disco saiu no fim de abril. Eu achei por acaso, fuçando lá no site de discos piratas, e não esperava nada quando dei play. As performances vocais foram a primeira surpresa: o cara tem o gogó aveludado, e canta com o coração na mão. Mas eu também fiquei impressionado com a diversidade do disco. Ele vai desde baladas sentidas, como “Forget Me”, até faixas mais movimentadas como “AM/FM” e “Death of the Autor”. Pela fineza do trabalho, achei que ele merecia mais atenção do que tem

Tinariwen — Amatssou

O Tinariwen é um coletivo de músicos tuaregues do norte do Mali, e a música deles têm algo da paisagem infinita do deserto. As faixas têm ritmos moderados, meio ambulantes, de volume constante, com percussões manuais, e são conduzidas por melodias de voz, coro, violão e guitarras, com variações sutis que vão puxando de volta a mente que se distrai. O grupo tem décadas de estrada já, e Amatssou, seu recém-lançado último trabalho, está cheio de faixas fodas que evidenciam essa experiência. Da potente abertura “Cler Achel” passando pela bela e meditativa “Tidjit” e a divertida “Anemouhagh” até o encerramento “Tinde”, é difícil achar um momento ruim nesse disco. Excelente para ouvir em viagens ou mesmo só em caminhadas.

É isso aí pessoal. O tempo voa, logo eu tô de volta.

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Gustavo Sumares

Jornalista, roteirista, editor, revisor. Falo aqui sobre música, especialmente por meio do 10 do Mês!